quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Costume e a Fartura

Sempre lembro que minha mãe contava algo curioso sobre minha vó: ela fazia carne assada todo domingo.
Minha vó Rosália era uma mulher com hábitos muito enraizados, como várias avós por aí. Ela não fazia a carne de qualquer jeito, gostava mesmo de fazer numa bacia de alumínio. Primeiro ela pegava a peça de carne, abria alguns buracos e enfiava cebola, cenoura e azeitona cortadas num caldo de vinagre com salsinha. Quando meu avô reclamava que ela gastava muito nesse almoço, ela dizia: “detesto miséria” e colocava mais um pouco e recheio na carne. Depois ela acrescentava banha na bacia e fritava todo o entorno da carne.
Só quero comentar que a banha era o símbolo da culinária na época, pois foi muito difícil para ela e outras mulheres aprenderem a cozinhar com o óleo, hoje comum.
Aí ela diminuia o fogo, acrescentava água aos poucos e “assava” a carne por horas, até ficar macia.
Ela gastava o que podia fazendo o almoço de domingo mesmo que isso significasse comer só arroz com feijão na segunda, mas “nada de miséria comigo” era o lema dela nessas horas.
Toda a industrialização fez com que tívessemos mais pressa e paramos com essas horas fazendo uma receita. Tudo dura menos, infelizmente. Noutros tempos a dedicação exclusiva à casa não era mal vista nem mal quista por ninguém, hoje já é difícil por razões econômicas.

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